Oficialmente, o inverno começa no dia 21 de junho no Brasil, mas neste ano as baixas temperaturas vão ficar mais acentuadas mais cedo.
A chegada da onda de frio até motivou o surgimento de uma expressão curiosa no Twitter para se referir às baixas temperaturas previstas como “erupção polar” — termo que não existe na meteorologia, como explicaram especialistas consultados pela BBC News Brasil.
A partir de segunda (16/5), nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, e de domingo (15/5), na região Sul, o frio deve estar mais forte do que normalmente é registrado em maio, segundo os principais serviços de meteorologia do país.
A onda de frio pode chegar até ao Norte do país, mas de forma menos acentuada.
A temperatura mínima prevista pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) chega a ficar abaixo dos 10°C em diversas capitais, entre elas Brasília, Belo Horizonte, Cuiabá, Campo Grande, São Paulo e Florianópolis.
“Maio é um mês de Outono, ou seja, de transição climática. É normal que a partir da segunda semana do mês as temperaturas comecem a adquirir características de inverno”, explica o meteorologista Humberto Barbosa, professor do Instituto de Ciências Atmosféricas da Ufal (Universidade Federal de Alagoas) e coordenador do Lapis (Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites).
“No entanto, neste momento realmente teremos um declínio de temperatura mais acentuado, abaixo da média que se espera para o período”, explica.
O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) aponta para o risco de geada no Sul e Sudeste e de friagem no Centro-Oeste. E cita até uma pequena possibilidade de neve nas serras gaúcha e catarinense.
Até onde (e quando) vai o frio intenso?
De acordo com a previsão do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), há condições para que boa parte dos Estados do Sul tenham temperaturas negativas entre os dias 16 e 20 de maio.
Já nas principais capitais do Sul e em algumas do Sudeste e Centro-Oeste, a temperatura mínima pode chegar a menos de 10º C. É o caso de Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Porto Alegre (RS), Goiânia (GO), Campo Grande (MS) e Cuiabá (MT).
Deve fazer frio também em Belo Horizonte (MG) e São Paulo (SP) — a previsão de mínimas abaixo de 10º C na capital paulista, aliás, é um dos fatores que mostram como o frio será atípico.
Já o Rio de Janeiro (RJ) e Vitória (ES) devem ter mínimas entre 17º C e 22º C.
Segundo as previsões, os fatores que trarão o frio atípico devem ir perdendo força entre 21 e 22 de maio, quando as temperaturas devem voltar ao que costumam ser neste mês.
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Imagem computadorizada de quinta (12/05) mostra massa de ar frio (laranja) e alta pressão ao sul do continente sulamericano — Foto: Universidade do Maine
Qual o motivo do frio mais acentuado em maio?
O frio atípico das próximas semanas pode ser explicado pela conjunção de uma série de fatores climáticos (que afetam o clima, no longo prazo) e de tempo (mais localizados).
Um dos fatores é o La Niña – fenômeno que acontece quando há resfriamento das águas da região central do oceano pacífico por pelo menos três meses consecutivos.
“O fenômeno deixa a atmosfera um pouco mais fria, então cria uma condição favorável para que as temperaturas despenquem com a entrada de uma frente fria”, explica Barbosa.
O La Niña, no entanto, não é novidade – ele tem estado presente nos últimos dois anos.
O que está acontecendo no momento é que, neste cenário onde o fenômeno já afeta a atmosfera, vai haver a passagem de dois fatores meteorológicos pelo continente: o deslocamento de uma massa de ar polar vinda da Antártida e a passagem de um ciclone extratropical pelo sul do continente.
A passagem de massas de ar polar pelo continente é comum – é o que gera as frentes frias e, em geral, gera menos chuvas no sul e mais chuvas no norte. No entanto, em conjunto com a passagem do ciclone extratropical, ela cria as condições para um frio mais intenso.
“O ciclone extratropical traz um pouco mais de umidade e intensificação dos ventos”, explica Barbosa. “Isso gera risco de geadas no Sul e de friagem na região Centro-Oeste e em alguns estados do Norte”, afirma.
A onda de frio tem a ver com as mudanças climáticas?
Não é possível atribuir este evento específico – a onda de frio – às mudanças mais amplas no planeta, explica o climatologista Francisco Eliseu Aquino, do Centro Polar e Climático e da Geografia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
No entanto, os estudos sobre as mudanças climáticas mostram que elas tendem a aumentar a frequência de eventos meteorológicos extremos, explica o professor.
E a atual onda de frio é “coerente com estudos sobre anomalias de eventos frios em um planeta mais quente”, diz ele. O próprio Aquino tem um trabalho publicado sobre o assunto em que estudou eventos frios no hemisfério sul.
“Não posso dizer que essa onda de frio é inédita ou atribuí-la diretamente às mudanças climáticas, mas ela representa o tipo de anomalia que encontramos em uma cenário em que o planeta está mais quente.”