Para coordenador de Comitês Populares de Luta, esquerda precisa retomar relação com base da população para além dos períodos eleitorais
Opera Mundi – “O povo brasileiro é de muita luta. E é sábio. Sabe o momento em que pode ganhar na luta política ou o momento em que sua luta principal é pela sobrevivência”, declarou Igor Felippe Santos, jornalista, militante do Movimento Brasil Popular e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em entrevista a Breno Altman no programa SUB40 desta quinta-feira (09/06).
Para ele, uma das explicações possíveis para este cenário de refluxo seria por conta de um consciência do povo de que, em eventuais derrotas, a classe trabalhadora é quem mais sai prejudicada deste processo.
Ainda assim, na batalha para reverter a desmobilização, o Movimento Brasil Popular realiza o trabalho de base junto ao Partido dos Trabalhadores (PT) e à Central Única dos Trabalhadores (CUT), congregando diversos movimentos sociais, como o MST, o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) e o Levante Popular da Juventude. Um dos desafios centrais é superar as dificuldades das campanhas Fora Bolsonaro em contagiar as massas nos últimos anos.
Em contraponto, observa, os comitês de base que têm conseguido avançar mais em termos de organização e mobilização são aqueles que tratam com prioridade de temas mais próximos dos problemas concretos da população, como o desemprego e a fome.
A tarefa, portanto, é muito maior e mais complexa do que simplesmente levar Lula à presidência, avalia Igor. “A partir do processo de enraizamento dos comitês populares, queremos sair da campanha com melhores condições para enfrentar as lutas que virão no próximo período”.
Durante a entrevista, os jornalistas discutiram também a transformação brutal dos modos de fazer campanha em anos recentes e a defasagem da esquerda no domínio das redes sociais e da comunicação via aplicativos como WhatsApp e Telegram, dominados com maior eficiência pelo bolsonarismo.
Na avaliação de Igor, a esquerda chegou tarde ao mundo das novas tecnologias, aprisionada por paradigmas antigos de comunicação, que de certa forma ainda se mantêm no presente.
“Em 2018 houve um choque: como é que Bolsonaro se elege presidente com oito segundos na televisão? A partir de lá conseguimos avançar um pouco, mas estamos aquém da necessidade que o momento histórico nos coloca”, reconhece.
Altman mencionou o descompasso entre a comunicação da direita, mais minimalista, telegráfica e com pouco a dizer, e da esquerda, tradicionalmente discursiva, e Santos observou que em termos numéricos Lula ainda não derrota Bolsonaro em nenhuma rede social. O desafio para o campo progressista, em 2022, passará por esse confronto inevitável e pela urgência em reconstruir uma comunicação direta e eficaz com os setores populares.